Mais uma vez abandonada em Yonville, procuro salvar as cartas afogadas em sangue e as esperanças incendiadas na brasa que há muito se extinguiu de meu corpo. Minha respiração se cala. (Meu coração - se ainda o tivesse - trepidaria fortemente). A noite é intensa, tremenda, terrível. Creio que será infinita, como tantas outras. Percorro fios, sigo rastros e me perco no labirinto do tempo. Um tempo cíclico cheio de ausências e desesperos, repletos da imagem de Mme Bovary em meu espelho. Na fuga vejo o esposo medíocre e submisso. Os amantes perversos. Um juiz maldito a me culpar. Há trezentas em mim e não suporto conviver com nenhuma delas. Todos os dias elas acordam gritando em minha cabeça e perseguindo tua imagem longínqüa e cruel. Todas as noites são soturnas e frias, mesmo quando tenho o balanço de um corpo ou a embriaguez de um cigarro. Meus membros não se movem. Meu pensamento esbarra numa parede. Minha alma sairia pela boca num gesto, se fosse possível mover meus lábios. A única coisa viva em mim é uma lágrima, essa espécie de veneno que insiste em corroer meu rosto e minha vida, muito mais triste que a de qualquer personagem de Flaubert e qualquer filme de Chabrol.
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